Conheça um pouco mais sobre a colonização da nossa região na pesquisa desenvolvida pelo doutor Luiz Carlos Piazzetta. O texto faz parte do livro "Memórias de um Médico no Interior Gaúcho", que será lançado em breve.



Em cada comunidade existia sempre uma capela, maior ou menor, conforme o número de famílias moradoras no lugar. A capela administrava  também o cemitério da localidade e uma cancha de bochas, a qual, muitas vezes, podia ter um pequeno bar, que funcionava nos sábados à tarde, aos domingos e em alguns lugares em dias feriados.

As capelas eram administradas por uma diretoria, eleita por um ano, que mantinha estreito contato com a paróquia, esta na sede do município.

A cada ano o padre visitava esporadicamente cada capela onde rezava missa pelo menos uma vez ao ano, sempre no dia do santo a quem a capela estava dedicada. Ele podia também retornar em ocasiões especiais como batizados, crisma e ainda, quando disponível, por motivo de algum falecimento de associados.

Nos domingos, sempre que o padre não vinha, a comunidade realizava um encontro religioso no qual algum dos moradores, aquele com mais conhecimento dos ritos católicos, “pregava la corona”, isto é, rezava o terço, juntamente com todos os presentes.

No dia anterior às festas do padroeiro, a capela era o centro de intensa atividade, onde vários grupos de associados, todos voluntários, trabalhavam preparando as refeições a serem servidas no almoço do dia seguinte.

Na manhã da festa, os moradores chegavam em diversos meios de transporte, alguns de vários quilômetros de distancia, e começavam a se concentrar próximos à capela. Alguns aproveitavam a oportunidade para fazer uma visita ao cemitério, ao túmulo dos seus familiares já falecidos. Terminada a breve visita, voltavam a reunir-se com os outros que estavam descansando à sombra de grossas árvores,  esperando pela chegada do padre. Este vinha da sede do município, sempre dirigindo a sua velha caminhonete Rural Willys. Geralmente a missa estava marcada para as onze horas e  terminava por volta do meio-dia, quando então seria servido um grande almoço coletivo. Este geralmente consistia de um grande churrasco, adquirido mediante o pagamento e retirada de uma ficha no caixa da capela. A carne e os mantimentos para confecção dos pratos eram quase todos doados pelos associados e o total da renda obtida revertida para a capela.



Quando a caminhonete do padre era então avistada ao longe, ainda na estrada em cima do morro, começavam a tocar o pequeno sino do campanário, construção também em madeira, tal qual o prédio da própria capela.
Os fiéis ordenadamente começavam a entrar no pequeno templo, já se separando os homens das mulheres, logo ali na entrada, mantendo-se assim para tomarem os seus bancos para sentar.

Em ambos os lados do altar ficavam as imagens de dois grandes anjos alados, os quais seguravam cada um uma vela.  À frente de cada anjo ficava uma fileira de bancos. O anjo da esquerda era de cor azul e o da direita cor de rosa. Os homens se sentavam nos bancos frente ao anjo azul e as mulheres e crianças frente aquele cor de rosa.
Os bancos eram aproximadamente em número de vinte, variando muito conforme o comprimento da capela.
Esta interessante separação por sexo, para assistir as missas, ainda se podia ver no decorrer dos anos noventa.

Naquela época as missas sempre eram rezadas em português e durava por volta de uma hora, ou pouco mais, conforme a inspiração do padre. Durante o sermão muitas vezes conforme era a etnia de proveniência do padre, ou ainda conforme a predominância étnica dos fiéis daquela determinada capela, este poderia falar em italiano – na realidade sempre era em talian, o dialeto vêneto-brasileiro, língua criada no Rio Grande do Sul pelos imigrantes. Em outros lugares o sermão poderia ser em polonês, já que esta etnia também era muito presente em Barão de Cotegipe e alguns municípios vizinhos,

Cada capela tinha orgulho de organizar e manter um pequeno coral, que acompanhava o padre durante o desenrolar da missa. Esses corais se rivalizavam com os de outras localidades. Era sempre formado por homens e mulheres da localidade, orientados e regidos por um deles, que tinha mais conhecimento de música. Muitas vezes acrescentavam um violão e mais frequentemente um acordeão.

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