Bela foto feita pelo colega Leandro Ferreira, em Campinas: 40 dias sem chuva


Dia desses estava na sala de casa, com a janela aberta, quando entrou uma nuvem de poeira. Moro em frente a uma rua de terra na Vila São João, em Barão Geraldo, Campinas. A vila tem umas cinco ruas e todas são de terra, por opção dos moradores, que não querem asfalto. 

A poeira que invadiu a casa me lembrou da infância e de uma tia, que morava na rua que era saída de Barão de Cotegipe, minha terra natal. A rua, como as demais do município, também era de terra. Ao contrário de Campinas, a seca em Cotegipe ocorre no Verão e chove muito no Inverno. 

Assim como estamos vivendo agora em Campinas, o ar lá ficava irrespirável com a secura e a poeira. Qualquer movimento na rua gerava uma tempestade de terra e isso era um martírio para minha tia, pois em frente de sua casa passavam ônibus, caminhões, tratores, carros, carroças, cavalos, bicicletas e pedestres. As plantas ficavam completamente cobertas de terra. A casa, de madeira, tinha portas e janelas lacradas com toalhas para não entrar pó, mas pouco adiantava. 

Para amenizar a secura, todo final de tarde ela e seus filhos pegavam uma mangueira e davam um “banho” na estrada, nas plantas e na casa. O ar ficava leve e tudo voltava a respirar. Ela até sentava na varanda e tomava um chimarrão com meu tio. No dia seguinte, a poeira dominava tudo novamente. A casa dos meus pais era em outra rua, mas mesmo assim minha mãe tinha que lavar as plantas e a casa. 

Um fato curioso é que nunca faltou água na cidade, apesar das secas prolongadas. A fonte era, e é, um poço artesiano perfurado há 40 anos. De acordo com um geólogo da companhia estadual que abastece a cidade, o poço tem 150 metros de profundidade e a água provém do Sistema Aquífero Serra Geral – não é do Aquífero Guarani. 



Pensei em molhar a rua também, como minha tia fazia. Mas não ia dar certo. Além de gastar a rara água, pouco resolveria. Logo seca e o intenso movimento de carros traria a poeira de volta. O jeito é esperar pela chuva, mas aí começa outro problema: a poeira se transforma em lama. 

A certeza do trabalho da minha tia era que a água lavava a terra e deixava o ar limpo e respirável, e ela podia saborear seu chimarrão com tranquilidade com meu tio. É o que nos resta fazer aqui em Campinas, ficar na sombra e esperar pela vontade da natureza. Ah, e minha tia não tem mais esse problema. A rua foi asfaltada há alguns anos.


7 Comentários

  1. Grande Jorge, vc escreve com uma leveza incrível, a história que descreve me passou uma viagem legal no tempo, cheguei a sentir o cheiro da água molhando a terra. Chimarrão, tias, mãe, são coisas que nos remetem ao inconsciente, muito bom de ler !! abç


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  2. Jorge,
    Viajei na poeira do tempo com a tua crônica... naquela
    época cuspiamos alguns tijolinhos e a poeira saia da mucosa
    da boca e nariz. Hoje, ela gruda,não é cor de terra e sim
    preta! Preço que pagamos pela evolução dos tempos.
    Só hoje conhecendo a realidade atual que lamentamos...
    eramos felizes e não sabiamos!!!!!
    Um abraço
    Adelia Malinowski Salles

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  3. É Jorge, aqui em São Paulo não temos essa opção de escolha, pois faça chuva ou faça sol a poluição sempre faz parte do cartão postal de quem mora por essas bandas, saudade de subir no pé de manga e só descer de bucho cheio e cara amarela, ir no açude e molhar os pés dividindo a água com o rebanho de gado de meu saudoso avô.ai! ai!.... bom deixa eu acordar e voltar ao trabalho tchau!!

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  4. Caro Jorge,morei nessa rua quando criança,sei bem o que é isso.A rua parecia mais com uma
    rodovia que atravessava a cidade.
    Lembro da sua tia (mãe da Elaine do Edgar) que morava bem na curva, na subida.
    Se passo por lá nos dias de hoje,não tem nada que me lembre daquele tempo; tudo está mudado.
    Foi bom relembrar,grande abç!

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  5. Caro amigo, realmente, a rua era e é uma rodovia que corta a cidade, e hoje está bastante mudada. Gostaria muito de saber quem voce é, talvez nos conheçamos.
    grande abraço.
    Jorge

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  6. Desculpe Jorge,esqueci de me identificar, sou sua amiga Neide Lúcia de Oliveira.Sempre que posso mato saudades neste blog.
    Tudo de bom, abç!
    Neide Lúcia

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    1. Oi Neide, que bom te encontrar novamente. Por onde andas. De mais notícias e obrigado pela leitura do blog.abraços.
      jorge

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