Fotos do desfile de 2007
 Dia 7 de setembro era o dia das freiras no colégio Instituto Cristo Rei. Estranho? É que nesse dia elas tinham que mostrar aos militares que estavam ensinando direitinho os alunos a marcharem. O esquema do desfile era rigoroso. Tinha-se a impressão de que algo superior, algo invisível, estava nos vigiando. Éramos crianças e estávamos no final da década de 60 e começo de 70, auge da ditadura militar no Brasil. 

Vivíamos em uma cidadezinha com cerca de 5 mil habitantes, longe dos grandes acontecimentos políticos do País. Lá só chegava a versão oficial, e repressiva. Essa entidade que sentíamos, mas não entediamos, eram os militares na governança do País. 
O Brasil vivia com medo e isso se refletia dentro das salas de aula. Tempo em que disciplinas como Organização Social e Política Brasileira (OSPB) e Educação Moral e Cívica eram obrigatórias no currículo escolar.

Naquela época, vivia-se a Semana da Pátria com intensidade. Várias atividades patrióticas eram feitas durante a semana. A mais dura era acordar cedinho para participar do hasteamento da Bandeira Nacional. E tínhamos que cantar o Hino Nacional, o Hino da Bandeira e o Hino do Estado. Com chuva ou geada, lá estávamos nós, um bando de crianças procurando entender o significado de tudo aquilo. Às 6 da tarde tínhamos que arriar a bandeira. Sempre tinha um político ou policial para discursar. O mais engraçado era o pai do prefeito, que não conseguia finalizar seu discurso. Acabávamos rindo.

E tinha os ensaios para o desfile do Dia 7. As aulas eram interrompidas e todos os alunos da escola iam para um grande pátio marchar. Sim, marchávamos como soldados, em perfeita formação, queixo erguido e peito estufado. Aí de alguém que errasse a cadência da marcha ou saísse da linha. Era castigo na certa. A formação era rigorosa. Lembro que uma vez compareceu ao colégio um policial militar (no Rio Grande do Sul é Brigada Militar) fardado, para acompanhar nossos ensaios de marcha.



Fantasias
No Dia 7, acordávamos cedo para entrar em formação e esperar o momento do desfile. Alguns alunos eram escolhidos para representar as forças militares. Iam fantasiados de piloto, marinheiro, soldado, policial militar etc. Uma vez fui escolhido para representar o Exército. Lá fui eu, fardado e todo orgulhoso, com uma arma de plástico na mão.

Mas, por fim, conseguíamos nos divertir desfilando pelas ruas da pequena cidade. Era o grande acontecimento do ano, talvez o mais importante da escola. A fanfarra, toda uniformizada de vermelho, dava show de musicalidade. Pais, parentes e amigos nos aplaudiam com gosto. E nós, desfilávamos duros, sem olhar para os lados, concentrados em não perder a cadência da marcha. Éramos soldadinhos e não sabíamos.


Hoje, as crianças e jovens aprendem a cantar o Hino Nacional de outra forma. Não por obrigação, ou temor, mas por respeito ao País. E os esportes têm grande participação nessa mudança, pois é onde mais se ouve o Hino Nacional.

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