TV Colorado RQ, preto e branco, a primeira que nossa família teve
O episódio abaixo é mais um narrado pelo doutor Luiz Carlos Piazzetta no seu livro "Memórias de um médico no interior gaúcho".  

Antes, porém, gostaria de lembrar a euforia da chegada da televisão preto e branco na casa dos meus pais. Esperei ansioso o dia inteiro a chegada do caminhão com a Colorado RQ. 

Foi um episódio de outro mundo a chegada daquele caixote com um tubo gigante dentro. Era uma aventura também assistir o que estava passando. 

Antes de aparecer a imagem, tinha que esperar alguns minutos as válvulas esquentarem. Quando ventava muito, a antena saia da posição e não se conseguia ver mais nada. Era coisa mais comum subir no telhado e ficar girando a antena. Alguém dentro de casa gritava: "mais pra esquerda, mais pra direita, aí tá bom, para". Lembro que minhas irmãs comemoraram quando viram uma imagem nítida, em que dava para notar a fumaça do cigarro.  

E depois inventaram um papel colorido (verde embaixo, vermelho no meio e azul no alto), que era colado na frente da TV para dar a impressão que era colorida. KKKK

E pra consertar era necessário esperar o técnico e proprietário da Apolo 11, uma loja que ficava em frente a antiga rodoviária em Erechim. Às vezes ele demorava até uma semana para chegar, constatar que não podia consertar, e levar a TV para Erechim. Aí esperava mais uma semana para devolver. E a coisa mais comum era a Colorado RQ pifar. Era uma agonia ficar sem ver o Rim-Rim-Tim, Bonanza, Os Waltons, a Pantera Cor de Rosa, Pica-Pau e os filmes japoneses de monstros. 

Vamos ao relato do Dr. Piazzetta: 

"A televisão em branco e preto custou bastante para chegar a Barão de Cotegipe. Precisou primeiro da inauguração de um canal regional, na vizinha cidade de Erechim, para o fraco sinal poder chegar somente até os locais mais altos da cidade. Em todo o centro da cidade, que fica em um vale, cercado por morros, o sinal simplesmente não era captado.

Para resolver o problema, um técnico em eletrônica de Erechim foi contratado por um grupo de moradores e explicou que nós necessitaríamos adquirir uma pequena repetidora do sinal, a qual deveria ser colocada na parte mais alta possível da cidade.




Esta repetidora era montada pelo próprio técnico, por sinal muito hábil e entendido para a época. Ela consistia em uma pequena caixa de metal, com circuitos elétricos e eletrônicos em seu interior, mais duas antenas, uma para receber o sinal que chegava de Erechim e outra para distribuí-lo para a cidade lá abaixo.

Para a aquisição desse equipamento foi feito um rateio entre os moradores interessados de ter o sinal de televisão em suas casas. O preço não era muito barato, mas, assim mesmo, um bom grupo se animou para ter essa modernidade.

Chegado o dia da tão esperada instalação, foi reunido um pequeno grupo de homens e com um grande televisor transportado nas costas, que passava de um para o outro quando este cansava, o grupo foi subindo o monte localizado logo atrás da igreja matriz. Não era muito alto, talvez uns duzentos metros de altura, mas segundo o técnico que acompanhava o grupo serviria muito bem para receber o sinal da estação de televisão de Erechim.

Pelos fios que já estavam previamente fixados em vários postes, trabalho dos voluntários nos dias anteriores, a energia elétrica necessária chegava ao alto do morro, até a pequena e precária construção de madeira que abrigaria a repetidora.

O televisor levado era necessário para localizar e calibrar o sinal, que não era muito forte. Naquele tempo não existiam televisores pequenos, ou monitores, para os técnicos executarem esse tipo de serviço. Os televisores eram muito grandes, pesados e ainda valvulados.

Uma vez instalada a repetidora, das nossas casas bastava apontar uma antena comum de televisão para ela e, com um cabo duplo próprio, o sinal era conduzido até o aparelho no interior das residências.

Realmente o sinal que recebíamos era muito fraco e de péssima qualidade. Na tela muito chuvisco e parte da programação precisava ser adivinhada. As crianças, no entanto, vibravam assim mesmo com as aventuras do zorro e de outros heróis dos programas infantis. Os raios e as ventanias eram os inimigos naturais da nova repetidora a qual, frequentemente, ficava fora de ar, para manutenção e reparos, dos danos nas placas eletrônicas.

Com o passar do tempo, acredito no ano de mil novecentos e sessenta e quatro, por ocasião de uma Copa do Mundo de Futebol, era inaugurada no Brasil a transmissão dos sinais da televisão à cores. Foi uma verdadeira revolução na diversão caseira.

Como era uma novidade, ainda não existiam para a venda aparelhos receptores de televisão à cores em Erechim. Mesmo assim me aventurei e adquiri um em Porto Alegre, através do mesmo técnico que instalou a receptora da cidade. O preço foi bastante salgado, mais de cinco vezes o valor de uma televisão branco e preto. Era um luxo disponível para muito poucos em Cotegipe.

Quando a instalei o aparelho, a casa vivia cheia de pessoas que vinham especialmente para conhecer aquela novidade e ficavam encantados com a qualidade da imagem, a qual realmente melhorou bastante em relação as preto e branco. As crianças vibravam com a programação infantil matinal e muitos amiguinhos vinham para participar. Por ocasião da copa do mundo, durante os jogos, a assistência lá em casa aumentava muito, pena que o Brasil não tenha ganhado o campeonato."


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