A pergunta do título me deixou quase que cambaleante. Jamais poderia esperar que ela partisse do meu pai. Foi numa manhã fria de inverno, quando cheguei na casa dos meus pais, no Interior do Rio Grande do Sul. Minha mãe me recebeu efusivamente na varanda da casa. Meu pai me abraçou e cumprimentou sorridente, mas, logo olhou sério para mim e peguntou. 


- Mas, quem é o senhor? 


Aturdido, custei a entender como aquele homem, que me carregou no colo quando criança, que foi meu amigo, que zelou por mim sempre, não me reconhecia. Um nó se formou na garganta, meus olhos estavam prestes a encher de lágrimas, quando minha mãe piscou para mim. Entendi. A doença estava num estágio avançado. Olhei para meu pai novamente, fiz um esforço do fundo da alma, e sorridente expliquei que era eu, seu filho, o Jorge, que estava chegando de São Paulo para visitá-los. Ele ficou me olhando e rapidamente minha mãe interveio. Me abraçou e nos levou para sentar em torno do fogão a lenha na cozinha. Em cima da chapa quente, pedaços de polenta eram assados, a água na chaleira chiava e uma panela cheia de pinhão era esquentada. Ignorando o que tinha acabado de acontecer, meu pai, como que num estalo, lembrou de mim e voltamos a conversar animadamente sobre a família, a cidade e outros assuntos. 


Meu pai sofria da Doença de Alzheimer, ou melhor, do Mal de Alzheimer, sim, porque é um grande mal. É uma doença progressiva que atinge principalmente pessoas com mais de 60 anos, independente de raça ou classe social. Meu pai era um homem forte, com quase dois metros de altura e mais de 100 quilos. Foi ferreiro e agricultor, tinha uma estrutura física imponente e nunca ficou doente. A única doença que o acometeu foi o Alzheimer. 


Na medicina, o Alzheimer é caracterizado por um progressivo e irreversível declínio em funções intelectuais, como memória, orientação no tempo e no espaço, distúrbios da linguagem e da capacidade de realizar tarefas cotidianas e mudança da personalidade. Em linguagem popular, a pessoa vai definhando até a morte. E o problema é que a família vai se deteriorando junto. Minha mãe estava acabada. Tivemos grande dificuldade em encontrar cuidadores capacitados a cuidar do meu pai. A maioria não tinha ideia do que era a doença. Foi preciso ensinar a forma correta de cuidar do doente. 


Sites especializados no assunto dizem que atualmente ela pode ser diagnosticada, para fins de pesquisa, antes mesmo que o paciente apresente sinais de demência. Medicamentos de cura já são anunciados em fase de testes. Cientistas dos EUA dizem que o bexaroteno é capaz de agir contra diversos efeitos da doença, já cientistas brasileiros descobriram que o exenatida, medicamento aprovado para combater o diabete tipo 2, poderá ser usado para tratar sintomas de Alzheimer. 


Enquanto a medicina não chega a um medicamento realmente eficaz, a Associação Brasileira de Alzheimer informa que pessoas cujas mentes são constantemente estimuladas são menos suscetíveis à deterioração e doenças do cérebro. Uma das atividades sugeridas é exercitar o cérebro através das palavras cruzadas, por exemplo, pois ajuda a desacelerar a evolução de uma doença, como o Mal de Alzheimer. Bem, diante do exemplo do meu pai, venho fazendo palavras cruzadas todos os dias. 

1 Comentários

  1. Só quem passa por situações desse tipo é capaz de sentir a profundidade de seu texto. Quando eu vi minha mãe conversar com a "mulher refletida no espelho" e com as mulheres das capas de revistas fiquei arrasada, pois comigo ela já não se comunicava logicamente, apenas diálogos sem sentido. E esse era só o começo de uma triste caminhada...

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