Na época em que rios ainda eram limpos, ou seja, lá na minha infância, a molecada de Cotegipe tinha três locais preferidos para nadar: a “caída”, a “barrinha” e um terceiro lugar que não lembro o nome, mas que ficava logo abaixo do DAER, ao lado do campo do Internacional. O lugar era fundo e perigoso, e por isso não muito procurado pelos pequenos. A grande atração era o cipó que servia de trampolim para saltar no meio do rio. Cercado pela mata, o local era muito bonito. Hoje não sei se existe ainda. 

Mais abaixo ficava a barrinha (não me perguntem a origem do nome), que na verdade era o encontro do rio Jupirangaba com o rio que vem das terras dos Mósenas, Follador e Meneghell. A barrinha era cheia de pedras e poços e por isso ficava em segundo lugar na nossa preferência. 


A “caída”, uma represa criada para fornecer água e movimentar a roda do antigo moinho de Cotegipe, era a preferida da molecada. Todo mundo ia pra lá. O proprietário não gostava que nadássemos devido ao risco de afogamento e aos atos de vandalismo praticados no canal de madeira que levava água até o moinho. Essa proibição tornava o banho mais delicioso. Pulávamos a cerca e nos escondíamos em meio a uma plantação de mandioca até ter certeza de que o rio estava livre. Era uma alegria. Brincávamos a tarde inteira e ao final, cansados e famintos, recolhíamos educadamente algumas melancias nas plantações vizinhas para saciar a fome. 


Uma vez o proprietário apareceu de surpresa. “Saiam daqui seus bunda pelada”, gritou ele. Foi uma correria danada, mas tudo acabou bem com a gente rindo do susto. Tinha mais outros dois lugares, não muito freqüentados. Um era quase em frente onde hoje fica o velório municipal e outro uns quinhentos metros acima. 


Seria injusto não citar a propriedade dos Bevilacquas, onde as famílias faziam agradáveis piqueniques ao lado do rio largo e calmo que corria entre as rochas. A molecada se divertia na água enquanto os pais churrasqueavam sob as árvores. Nadávamos nestes locais sonhando com um banho de piscina ou com a água salgada do mar. Tenho pouco contato com esta turma de amigos que está espalhada pelo Brasil, mas, assim como eu, todos devem ter realizado seus desejos e tomado centenas de banhos de mar e piscina. E lá no fundo da memória, a cada mergulho, surge a imagem daqueles meninos felizes que se divertiam com a água barrenta dos rios de Cotegipe. O primeiro rio, ninguém esquece.

8 Comentários

  1. Jorge, o local era proximo ao campo do Internacional e se chamava "Fundão", nadei e brinquei muito por lá, tal como em todos esses locais que voce mencionou. Que saudades daqueles tempos. Você só dá valor as coisas boas da vida, depois que sente falta delas. Quando a gente está longe da terra em que nasceu, é que se dá o verdadeiro valor que merece.
    Continue escrevendo sobre "A grande Cotegipe", aqui do Mato Grosso, acompanhamos cada palavra sua, e a cada postagem de seu Blog, nos faz voltar no tempo e com saudades da terra natal, suas lebranças e memória de um tempo bom que não volta jamais.
    abraços

    Itacir Longo - Sinop - MT

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  2. Boa Itacir, era o Fundao mesmo. Muito bom voce lembrar. Quando for a Cotegipe, que serã logo mais, vou conferir se ele existe ainda.
    Eta epoca boa aquela...
    Agora, ai em Sinop deve ter um monte de rios bons pra nadar.
    abracos e obrigado pela participação.
    jorge

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  3. Olá Jorge
    O terceiro lugar para se tomar banho, seria lá perto da DAER, no Bés, chamado fundão... lembro-me de ouvir histórias sobre uma panela de ouro enterrada por lá... a imaginação voava... também levávamos uns corridões quando pegávamos umas melancias por aquelas bandas... Um grande abraço... não perco nenhuma das suas mensagens, parabéns pelo blog!!! É simplesmente maravilhoso.

    Graça e Paz. Grace and peace.
    Gladimir

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  4. Jorge, o Itacir tem rezão quando afirma que o local de banhos abaixo do campo do Internacional(PARABÉNS A NÓS COLORADOS PELA CONQUISTA DO TÍTULO DE ONTEM) era chamado de Fundão. Sabe que um ou dois dias após as cheias, a gente se largava do passo (local de passagens de carroças da época) e íamos até o Fundão, ali nos agarravamos nas árvores e saíamos do local. Outro local bom para banhos era o poço do Gentil Longo situado acima do matadouro do Vicente Balchum na época. O local acima da Capela mortuária se chamava Açúde do Madeira, ali era ótimo pois dava para nadar, mergulhar e virar cambota. Tinha também o Poço do Pescador situado abaixo dos Rosa. Não sei se Vocês lembram mas, ali onde está o situado o Ginásio de esportes (o abacatão) o rio fazia umas quantas voltas e nas cheias as águas eram represadas, não havia correnteza e nós aproveitávamos para pular e brincar. Aí se alguém tivessa uma foto do local; quanta saudades.
    Um grande abraço ao Itacir Longo e Familiares. Fiquei sabendo de mais um Cotegipense na Petrobrás Edson Tussi , um abraço. Lembro da época do Ginásio Cristo Rei ,Você era Fera a Irmã Glaci considerava Você um Gênio, Eu um burro ; também Eu não gostava de estudar, e não era por falta de tempo na época trabalhava para as Freiras e Elas obrigavam estudar por umas duas horas na parte da tarde; mas quem ia estudar se tinha tantas Internas bonitas para se ver.

    Armando Leszczinski

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  5. Amigo Jorge.
    Lembrei de mais 2 lugares de banho. O açude da Vó Charlota (Vó do Geraldo Zunkovaki), abaixo do Madeira. Outro era em frente ao Cinema do Tio Henrique, este era chique pois no fundo tinha concreto.
    Um forte abraço
    Edgar Tussi
    Nova Petrópolis

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  6. Não peguei mais essa época, que deve ter sido fantástica, de banhos nos riachos da Grande Barão. Nós eramos muito pequenos naquele início dos anos 60 e, pelo que me consta, ninguém daquela turma de toquinhos gente - moradores da Rua Porto Alegre e adjacências - sabia nadar. Mas lembro das cheias, da água tomando conta do centro da cidade, de maneira que a gente não sabia onde terminava a rua e onde começava o riachão transbordado. Havia dois ou três pontilhões que garantiam a passagem de veículos. Mas havia também, colocadas aqui e ali sobre os riachos na área central, simples pinguelas para pedestres. Uma tábua reforçada, quando muito um tronco de árvore. Em épocas normais, nenhum problema - a travessia era segura. Mas, na época de "maré alta", passar por ali era uma temeridade. Alguns se arriscavam. Que nunca tenha havido um acidente é para mim um mistério até hoje.

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  7. Amigos Anos 60, vejo que voce sabe bastante sobre Cotegipe, mas estou curioso em saber mais sobre voce.
    obrigado

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  8. Armando Leszczinski

    Aproveitando lembro de uma enchente: ali em frente do antigo Café exitia uma passagem de carroças a água havia baixado para o leito do e nós em grande número estavamos assistindo e comentando sobre a enchente; sem ninguém esperar o Nicolau Gergeli grande Nico se jogou no rio, foi aquele espanto e né que Ele atravessou ali mesmo com a correnteza toda.
    O Nicolau era fera não sei se era verdade mas que ele afirmava que tomava cachaça com vidro moido isto eu ouvi muitas vezes.

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