Não sou eu não. Como não tenho fotos da época, uso o Mr. Bean para ilustrar |
Tenho visto nas redes sociais muita gente rodando de bicicleta pelas bucólicas estradinhas de terra no interior de Cotegipe. Uma dessas pessoas é minha antiga
vizinha, a Gertrudes, que seguidamente posta belas fotos de passeios
ciclísticos por estradas que parecem sair de um quadro.
Essas fotos me lembram de quanto gostava de andar de bicicleta
pelas ruas de Cotegipe. Muitas vezes pedalando por prazer, outras vezes
carregando litros de leite para entregar ao seu Olivo, que fazia os deliciosos
sorvetes no Café, embora parte desse leite ficasse pelo caminho em belos
tombos. A aventura maior era pedalar à noite, quando as ruas eram escuras e o risco maior.
Sem saber, já praticava o que hoje chamam de bicicross. Montava
na minha velha bicicleta,
pneu linguiça, aro 28, presente do meu padrinho, e me largava pelas estradas de
terra e pelo meio do mato. Nem capacete tinha. O vento na cara e a liberdade de
poder ir a vários lugares tornaram a bicicleta minha paixão — que depois evolui
para a motocicleta.
Naquela época não existiam bikes especiais, com
amortecedor etc e tal como as de hoje. O máximo era uma Caloi ou Monark pneu
balão (aro 26) ou pneu linguiça (aro 28). Também não existia essa parafernália
toda para pedalar. Bastava ter força nas pernas e espírito de aventura.
A minha bicicleta era velha e quebrava
constantemente. Até que um dia meu pai me deu uma Caloi zero bala. Foi muita
emoção. Não largava mais ela.
Joogial
Estava sempre pedalando e nessas aventuras encontrei mais
três colegas que também gostavam de pedalar: o Jorge Oliveira, o Altair Paz e o
Gilmar. Daí criamos o grupo Joogial, que todo fim de semana se aventurava pelas
estradinhas de terra em direção às colônias. Era uma opção para quem não
gostava de jogar bola ou baralho no clube.
Equipados com ferramentas para pequenos consertos,
um troquinho no bolso, caixa de fósforos e um canivete, saíamos cedinho para
percorrer estradas de terra e picadas pelas colônias. E nessa aventura, outros
amigos se uniam e chegávamos a formar grupos de até 15 moleques.
Nossos trajetos mais percorridos eram as estradas para a Linha Seis e Linha quatro. Quando batia a fome pegávamos em plantações à beira da estrada o que a natureza nos oferecia. No Verão, assávamos milho verde e de sobremesa comíamos melancia ou melão. O rio mais próximo era sempre um convite para um banho. No Inverno, o prato era pinhão ou batata assada na grimpa, com direito a sobremesa de laranja ou bergamota. Daí a razão de levarmos o fósforo e a faquinha.
Geralmente a viagem de
ida era tranquila, uma contemplação e integração com a natureza. Já a volta era
um verdadeiro “racha”. Andávamos quilômetros e quilômetros sem parar e ao
máximo que podíamos. Cada um queria mostrar que era mais forte e veloz.
Esta foi minha primeira bicicleta, feita pelo meu pai: apesar de ela ter três rodas, fazia ela rodar só com duas: fera |
Romaria em Erechim
O máximo da aventura foi participar de uma romaria
para a festa de Nossa Senhora da Salete, em Erechim. Equipamos duas bicicletas
com farol alimentado por dínamo e nos largamos no fim de tarde para Erechim.
Tinha umas 25 bicicletas. Bonito de se ver.
Chegamos à Igreja, rezamos e rapidinho pedalamos de
volta, pois a emoção estava no retorno pela estrada escura. Era mais de
meia-noite e aquele bando saiu em disparada pela estrada escura e cheia de
curvas. No meio do caminho um dos dínamos quebrou, enquanto a outra
bicicleta equipada com o farol disparou na frente. Quem ficou no escuro tentava
se guiar pela luz do luar. Depois de alguns tombos e trombadas em barrancos,
nos encontramos na entrada da cidade exauridos e arranhados, mas felizes pela
aventura bem-sucedida.
Bastava uma bicicleta velha,
uma estrada de terra e o vento no rosto para sermos felizes.
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