Conheci o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier de Olivo, em 1985, quando ele ainda era o jornalista Cau, na redação do extinto jornal O Estado, em Florianópolis. Eu começava na profissão quando Cau chegou para escrever sobre política. Seu passado o habilitava para isso. Cau estudava direito e militava na UNE contra a ditadura militar. Era um sujeito brincalhão, inteligente e articulado, além de ser gente boa. Logo se apaixonou pela bela e simpática diagramadora Cristiana e depois de dois meses de namoro casaram. Em seguida, foram morar em Brasília, onde Cau assessorava um político catarinense. 

Na redação, permaneceu seu irmão mais novo, o Júlio, com quem trabalhei por um bom tempo. Cerca de um ano depois Cau e Cristiana voltaram para Florianópolis, com um filho. Cris não teria se adaptado ao clima de Brasília, segundo Cau. Algum tempo depois vim para São Paulo e perdemos o contato.


Vim a ter notícias de Cau no ano passado, quando ele se candidatou ao cargo de reitor da UFSC, universidade onde estudei e que tenho profundo carinho, além de muitos amigos. Em maio do ano passado comemoramos a posse de Cau como reitor. Era a coroação de uma longa jornada do jornalista e professor, que assumia com vontade de dar um novo rumo à universidade. A UFSC era vida para o professor.


A alegria se transformou em tristeza no dia 14 de setembro deste ano, quando agentes da Polícia Federal bateram na porta do apartamento onde o reitor Luiz Carlos Cancellier morava com seus filhos. Cancellier era acusado de desviar milhões de reais do programa de ensino a distância da UFSC. 


Depois de horas de interrogatório, ele foi levado para a Penitenciária de Florianópolis, onde acorrentaram seus pés, algemaram suas mãos e o deixaram nu para a revista íntima. Ficou trancado na ala de segurança máxima como se fosse um assassino. Trinta horas depois Cancellier foi liberado, mas não era mais o homem alegre, afável, comunicativo e acolhedor. 

Além da prisão, a Justiça permitiu que ele ficasse apenas duas horas e meia por dia na universidade onde era reitor. Cau não aguentou. Entrou em depressão, que o levou, alguns dias depois, em 2 de outubro de 2017, no salto para a morte dentro de um shopping center em Florianópolis. Cancellier, aos 59 anos, não suportou a extrema humilhação a que fora submetido. 


O suicídio gerou uma onda de consternação no meio acadêmico e acendeu a luz para os abusos da investigação. “A condenação não pode vir antes da sentença”, diz um cartaz no campus da UFSC. Até hoje nada foi provado contra Cau. Apenas o trauma que ficou para familiares, amigos e alunos do professor. O que se espera agora, velho Cau, é que a justiça seja feita e sua inocência provada.

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