Eles se conheceram ainda jovens, beirando a adolescência. Ele, um jovem forte e bonito, filho de imigrantes italianos, sabia apenas trabalhar a terra. Logo aprendeu com o irmão mais velho a arte de moldar o ferro em brasa. Ela, uma jovem bonita, também filha de imigrantes italianos, aprendeu os afazeres domésticos. O amor nasceu do primeiro encontro e logo sabiam que os caminhos estavam traçados para a eternidade.

Começaram a namorar. Fazia chuva, sol ou geada, ele vencia longas distâncias montado em um cavalo para ver seu amor. Um dia resolveram juntar suas vidas num só corpo e espírito. Casaram-se.

Mudaram para uma casa pequena, modesta, próxima ao trabalho dele. Ela montou um lar aconchegante. Ele tornou-se um mestre na arte milenar dos ferreiros. O fogo e o ferro eram seus elementos de trabalho. Logo veio a primeira filha. Em seguida a segunda, a terceira, e depois mais dois filhos. Os recursos financeiros eram poucos e as dificuldades diárias eram grandes, mas o amor maior ainda.

Com o passar do tempo, o organismo dela desenvolveu doenças que exigiam cuidados constantes. Ele continuava forte e saudável. Apesar do seu ofício “rude”, seu coração emanava grande sensibilidade. Era capaz de entender o que se passava com ela ao olhar a cor de sua pele, os olhos, ou os trejeitos do seu corpo.

O amor se afirmando em cada palavra, gesto, cor ou símbolo. Os filhos, assim como vieram, saíram para cuidar de suas vidas. Aquele lar, antes cheio de gente, agora era só deles. E eles gostavam disso. Viviam aquela cumplicidade de casal amoroso. Era gostoso de ver.

O tempo passou e o casal chegou aos 50 anos de vida conjunta. Festa de Bodas de Ouro. Eles se divertiram, dançaram, cantaram, riram muito e brincaram com os filhos, netos e amigos dessa longa jornada. Cinquenta anos depois, o amor entre os velhos-jovens continuava mais vivo que nunca.


Mas o destino, ahh, esse destino... não deixou que a alegria continuasse. Ele, que sempre fora forte e saudável, foi acometido por uma traiçoeira doença. Então o ferreiro partiu para o Olimpo justamente, ano em que fariam 60 anos de casados e ela 81 anos.

Cinco anos depois, a mulher do ferreiro também subiu ao Olimpo. Agora, ambos estão sentados, abraçadinhos, ao lado do fogo, namorando, olhando as estrelas e lembrando dos 65 anos de casados que seriam completados no dia em que ela fez sua passagem. Estão juntos, curtindo as delícias da divindade de um casal que sempre se amou, na doença, na alegria, na tristeza e na cumplicidade.

Uma homenagem aos eternos namorados.

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