Carnaval 1: 
A gaita roncava forte no salão enfumaçado, acompanhada por um violão e uma bateria, se é que aquilo podia ser chamado de bateria. O calor era infernal, as poucas janelas (não havia ventilador de teto) não permitiam a entrada do ar fresco da noite e o cheiro de suor e pó tomavam conta do salão. Mas isso não importava, os casais rodopiavam contentes no embalo do vanerão de Carnaval. Como o conjunto musical (aqui chamado de banda) sabia poucas marchinhas carnavalescas, era o vanerão (estilo musical popular no Sul do País) que dominava a festa.

Quando surgia uma discussão acalorada, a gaita parava, os sujeitos eram colocados para fora, os ânimos se acalmavam, a gaita voltava a roncar e todos retornavam ao baile. Era uma parada para tomar um ar fresco. No salão tinha de tudo, crianças, nono, nona, guaipecas (cachorros), pinguços e aqueles que não sabiam ainda pra que lado cortar. As moças se embelezavam, mas o pudor era maior que a vontade de extrapolar. E a gente se divertia muito.

Assim é que me lembro do Carnaval na minha adolescência nos bailes em salões paroquiais. Tínhamos que aproveitar ao máximo as noites de folia, pois na Quarta-Feira de Cinzas começava a quaresma, o que impedia a realização de bailes até a Páscoa. Eram 40 dias sofridos.

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Carnaval 2: 
Alguns anos depois estou na boate do momento em Florianópolis fazendo a cobertura do primeiro baile gay da ilha. Entre as “personalidades” estava um rapaz que fez a troca de sexo e virou moça. Dizia ele ser o primeiro do Brasil a ter feito a mudança. Até podia ser, estávamos na década de 80. Bastante animada com a popularidade, a moça, num momento de deslumbre, tirou a calcinha e tentou mostrar para a TV, que transmitia ao vivo, sua nova faceta. Foi um Deus nos acuda. Lembro que a moça era paulista, mas por um bloqueio de memória não consigo recordar se era de Campinas.

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Carnaval 3: 
Milhares de pessoas nas ruas em plena alegria no Carnaval de Barão de Geraldo. Durante tardes e noites os foliões pularam ao som dos diversos blocos formados por estudantes, moradores, músicos profissionais e quem quisesse participar. Carnaval para crianças, jovens, adultos e idosos com boa dose de tranquilidade garantida pela presença da polícia e bom senso dos foliões. Não participei todos os dias, mas também não fiquei sabendo de nada que desabonasse a festa carnavalesca baronense. É claro, exageros sempre acontecem, seja na rua ou no clube mais chique da cidade, afinal, o Carnaval é a oportunidade que muitos têm de extravasar a repressão acumulada durante o ano. Você já foi a uma Oktoberfest?

Por Jorge Massarolo
Jornal Correio Popular, dia 15/02/2013

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