Certa vez, ainda na adolescência, vi uma cena da janela do escritório em que trabalhava que me comoveu. Um casal de idosos, os dois magrinhos e com passos lentos, tentava atravessar a movimentada avenida. Ficaram ali por minutos esperando uma oportunidade, que demorava em vir. Ela queria ir a qualquer custo, mas ele a segurava pela mão. Então, ele sentiu que poderia atravessar a pista e carinhosamente a puxou pela mão. Lentamente chegaram ao outro lado da avenida.

Aquele simples gesto, de carinho e de proteção, me fez pensar no meu futuro e no futuro do País. O Brasil não é mais formado apenas por jovens. É também um País de idosos. O acesso à informação, exercícios físicos, boa alimentação, atividades voltadas para idosos e mais uma série de fatores, resultam no prolongamento da vida.

Mas aí surge um sério problema. Faltam profissionais e clínicas especializadas em cuidar de nossos idosos. Tomo como exemplo os meus pais, que não moram em Campinas, quando tivemos dificuldades em encontrar pessoas gabaritadas para dar atenção, carinho e com o mínimo conhecimento de enfermagem. Sim, é preciso saber medir a diabete, a pressão, a dose correta dos medicamentos, cuidar de ferimentos, fazer uma alimentação adequada e, principalmente, ter muita paciência com os idosos. 

Sei que as faculdades formam profissionais capacitados para esse tipo de atividade. No entanto, acredito que a maioria prefira trabalhar em consultórios ou hospitais. Enquanto isso, nossos idosos ficam à mercê de “cuidadores” que aprenderam o ofício por força de uma situação. Não possuem uma orientação adequada de como tratá-los. São vários os casos de descaso com os mais velhos. E isso não é nada bom. Também já vimos clínicas de repouso, que na verdade são um amontoado de idosos. Esse é o retrato do País com os mais velhos. 

O governo precisa prestar atenção nessa crescente parcela da população que não está recebendo o devido tratamento. É hora de mudar as políticas públicas de saúde e realmente criar condições para que todos tenham um envelhecimento sadio e digno. 

Os idosos merecem nosso profundo respeito e cuidado. Não podemos esquecer que ficaremos velhos..., portanto, ter paciência, amor e carinho com nossos idosos é fundamental, mesmo eles sendo chatos, ranzinzas, chantagistas e doentes... É hora dos velhos terem a vida que merecem, fazendo o que gostam e recebendo carinho e atenção. 

Se Deus permitir que eu chegue lá, não quero ser um peso para ninguém. Gostaria de viver num lugar onde eu possa conversar, rir, receber filhos e amigos em um ambiente digno. Ser humano é poder fazer escolhas mesmo dentro das limitações da idade, é poder sair dessa vida deixando lembranças de que fui um bom velho, até na minha doença e nos meus bem vividos cento e tantos anos. 

Publicado no jornal Correio Rac, dia 30 de junho.

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