Dia desses estava indo para a redação com meu Corcel azul ano 1975, quando passam por mim duas viaturas da polícia civil em alta velocidade. De relance, percebo que no porta-malas de uma delas estão três garotas conversando animadamente, como se estivessem passeando.

Achei estranho aquela situação.Quem ficaria contente em andar no porta-malas de um carro da polícia? E ainda mais algemado? Acelero meu velho Corcel e alcanço os carros no semáforo. Lá estão as três tagarelando. Fico mais intrigado. O sinal abre e os carros saem em disparada. Acelero e no outro semáforo consigo parar o Corcel logo atrás da viatura. Elas me olham. Eu olho e sorrio. Elas correspondem. Então, ergo os braços e num gesto simulo a pergunta? Por quê?

A que tinha aparência de mais velha, talvez uns 17 anos, dá outro sorriso e também ergue os braços respondendo: “Aconteceu, agora estamos aqui”. O sinal abre e eu sigo os carros mais algumas quadras até uma bifurcação. Lá, as viaturas tomam o rumo do 1º Distrito Policial e eu sigo para o jornal com uma incógnita na cabeça. Que tipo de crime aquelas meninas cometeram? O que fizeram para estragar o começo de suas vidas? Dirijo matutando essas questões, sem encontrar uma resposta imediata.

Algumas semanas depois, na redação, começo a editar uma matéria que me faz lembrar o episódio das meninas no carro da polícia. Duas garotas, uma de 15 e outra de 16 anos, pegaram “emprestado” o carro de uma tia e foram roubar comidas e bebidas (picanha, filé-mignon, vinho, champanha e até fraldas) em um supermercado de Limeira e em outros dois em Campinas. No quarto estabelecimento, já em Campinas, foram descobertas por seguranças, e aí, fizeram outra besteira maior. No desespero de fugir, saíram em disparada com o carro e atropelaram uma criança que entrava no carro da mãe. Por sorte, o garoto sofreu ferimentos leves, mas teve que ser levado a um hospital para exames. Mesmo assim, as garotas não pararam e seguiram até a portaria, onde ficaram presas na fila de saída, momento em que uma viatura da Polícia Militar chegou e as deteve.

Mas, a aventura das garotas não acabou aí. Na delegacia, contaram aos policiais que ambas estavam grávidas. “A menina de 15 anos disse que estava grávida de quatro meses, e a de 16 anos, de dois meses. Elas alegaram que as carnes e as bebidas seriam para uma festa funk que rolaria no Jardim Andorinhas, onde moram, no final de semana”, conta a repórter da Agência Anhanguera de Notícias Alenita Ramirez.

Fim da história?? Não, espera que tem mais. Na delegacia, a polícia descobriu que a garota com 16 anos na verdade tem 21. Ela é de Tocantins e comprou o RG falso em São Paulo. Bem, não restou alternativa. A moça foi presa em flagrante por furto e vai responder também por falsidade ideológica.

Os dois casos são diferentes, mas atingiram o mesmo resultado: a prisão de jovens meninas no começo de suas vidas. É arrepiante pensar que o futuro do País está nas mãos de tanta irresponsabilidade.

Bem, na próxima vez em que carros da polícia passarem por mim no tapetão, eu vou é continuar andando devagar com meu idoso e honesto Corcel.

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