Reportagem publicada no jornal da Unicamp
CPQBA desenvolve 1º cultivar brasileiro de planta medicinal
Macelinha é usada na preparação de chá com propriedades digestivas e antiespasmódicas Estudo desenvolvido pelo Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) da Unicamp deu origem ao primeiro cultivar brasileiro de macelinha (Achyrocline satureioides), planta medicinal nativa muito utilizada no país para a preparação de chá com propriedades digestivas e antiespasmódicas, entre outras. De acordo com o coordenador do trabalho, o agrônomo Ílio Montanari Júnior, o objetivo foi iniciar o processo de domesticação da espécie, para que ela pudesse ser cultivada de forma comercial. "O próximo passo será produzir sementes para serem distribuídas aos agricultores interessados", adianta. Atualmente, a macelinha é extraída da natureza, o que traz problemas de ordem ambiental.
A pesquisa em torno da macelinha, também conhecida como marcela, macela e marcela do campo, começou em 1990. O interesse em estudar a espécie, explica Ílio, está associado a três fatores: econômico, social e ecológico. "A macelinha está ligada a tradições populares , principalmente no Sul do Brasil. Além disso, é usada para preparar chás digestivos e encher travesseiros e almofadas. Ocorre, porém, que a planta é objeto de extrativismo, o que acarreta problemas ambientais, notadamente a diminuição de suas populações. Ao criarmos condições para que seja cultivada comercialmente, estamos contribuindo para gerar uma nova opção agrícola, o que favorece a geração de emprego e renda no campo, além de reduzir a agressão à natureza", afirma.
Para dar início ao estudo, Ílio trouxe sementes de vários pontos do país para formar uma coleção no CPQBA. A ação seguinte foi promover o melhoramento e a domesticação da planta. Para isso, o agrônomo selecionou os melhores indivíduos de cada geração, ou seja, os que produziam mais flores, não tinham problemas de germinação e não apresentavam doenças ou outras características indesejadas. Estes forneceram sementes que foram plantadas e geraram novos exemplares. O processo, que teve início no viveiro e foi posteriormente transferido para o campo, foi repetido por dez gerações. "Depois de todo esse tempo, nós conseguimos chegar a uma planta cultivável, cujas sementes possuem pouca dormência, que é mais produtiva e que apresenta crescimento e florescimento mais homogêneos", assegura o pesquisador.
Superadas essas etapas, prossegue Ílio, ainda será preciso produzir sementes do cultivar de macelinha para serem distribuídas aos agricultores interessados em produzir comercialmente a planta medicinal. Como esse trabalho não é realizado pelo CPQBA, a unidade está firmando parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que deverá assumir tal tarefa. "O convênio entre as duas instituições está na fase final de elaboração", informa o pesquisador.
De acordo com ele, quem decidir plantar a macelinha para posterior comércio não terá grandes dificuldades em lidar com a espécie. "Como a planta é rústica, o manejo não requer muitos cuidados. Desde que seja cultivada com o espaçamento adequado e que receba os tratos culturais normais, como capina e adubação, a macelinha tenderá a se desenvolver muito bem", prevê.
Ílio considera, ainda, que o desenvolvimento do cultivar da macelinha deverá favorecer as pesquisas em torno da produção de medicamentos fitoterápicos. "Os cientistas envolvidos nesse tipo de projeto poderão contar, por exemplo, com a reprodutibilidade da planta, o que não ocorria anteriormente". O agrônomo informa que a macelinha faz parte da farmacopeia brasileira, e em breve deverá fazer parte da lista de plantas medicinais formulada pelo Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos do Ministério da Saúde.
Os eventuais remédios gerados a partir das espécies incluídas na relação, que são do interesse do Sistema Único de Saúde (SUS), deverão ter o registro facilitado, visto já haver um vasto conhecimento tradicional relacionado às propriedades das espécies.
Por Manuel Alves Filho

2 Comentários

  1. Como os produtores interssados na produção e comercialização poderia fazer para participar nessa fase de multiplicação da macelinha.
    A parte mais dificil na cadeia dos fitoterapicos esta na comercialização onde se paga muito pouco para quem produz e na comercialização os ganhos sao enormes, como minimizar ?

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  2. Caro Luiz,
    desculpe a demora em te responder, mas sugiro que voce entre em contato com a assessoria de imprensa da Unicamp, que eles te colocam em contato com o pesquisador. seguem os dados e obrigado pela participação.

    Telefone 19-3521-5108 ou 3521-5146
    Fax 19-3521-5133
    E-mail: imprensa@unicamp.br
    Atendimento: 8h30 às 17h30

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