Este texto publiquei em 2016, mas vale republicar em homenagem à grande cantora e compositora, rainha do rock, Rita Lee.


Que a música tem poderes incríveis todos sabemos, mas o que mais me intriga é a capacidade dela em reavivar fatos do passado por mais longínquos que tenham ocorrido. Você certamente já teve esta experiência. Há explicação científica para a conexão que ela provoca nos neurônios repassando em nossa memória situações agradáveis ou não. Geralmente as desagradáveis a gente procura apagar.

Nada do que estou escrevendo aqui é novidade, mas ontem pela manhã estava fazendo uma atividade quando no rádio tocou uma música da Rita Lee. Instantaneamente a melodia me levou a dezembro de 1979, quando eu e um grupo de amigos fomos para a cidade de Santa Maria fazer cursinho intensivo para encarar o vestibular da UFSM. Era nossa primeira experiência fora de casa e por lá ficamos um mês fazendo o intensivão. Na época, o vestibular durava quase uma semana. Era uma sequência de quatro ou cinco dias de provas.

Mania de Você

Eu e meus amigos ficamos em uma pensão no centro da cidade. Uma senhora de uns 70 anos era responsável pela nossa alimentação e abrigo. Tínhamos aula de manhã e à tarde. No almoço voltávamos para a pensão e nesta hora, todos os dias, um sujeito que morava no quarto andar do prédio ao lado colocava, em alto volume, alto mesmo, a música Mania de Você, de Rita Lee. Eu ficava ali, sentado na escadaria da pensão ouvindo, curtindo aquela música bonita e mesclando a saudades de casa e vivenciando a primeira experiência solo em uma cidade grande.

Passados mais de 30 anos, toda vez que ouço Mania de Você, as lembranças daquele período voltam à memória como se tivessem acontecido semana passada. Lembranças boas, dos amigos, de uma época de descobrimento do mundo, da vida, de mim mesmo. A música criou um sentido para este momento, virou uma trilha sonora para um filme construído em minha memória que é ativado quando Rita Lee canta.

É claro, estou citando ela como exemplo, mas muitas outras músicas marcam época, como Não Chores mais, na voz de Gilberto Gil, ou todas de Caetano Veloso, mas aí são outras histórias e outros momentos. Os entendidos em música, como minha mulher, que é musicista, tem explicações para isso. Aliás, foi ela que me mostrou que eu e todos nós somos seres musicais.

Nunca cheguei a conhecer o sujeito que colocava a música para toda a vizinhança ouvir, mas só agradeço a ele por conseguir marcar, involuntariamente, uma época importante da minha vida. Uma época que só a música pode evocar. É inquestionável o bem que ela nos faz. 

Obrigado Rita Lee.

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