O frescor da manhã ainda refletia na grama da praça quando saí para levar o lixo na caçamba estacionada na esquina da rua. Notei que um pequeno caminhão de mudanças circulava a praça lentamente, com o motorista olhando atencioso para as casas.
- Está perdido, pensei.

Dito e feito. Segundos depois o caminhão de cor branca e placas de São Paulo para ao meu lado. Tento ler o nome da empresa de mudança estampada num pequeno slogan na carroceria, mas ela está toda riscada. 

- Bom dia moço, você sabe onde fica o número 245 desta rua, pergunta o motorista, um jovem com cerca de 25 anos, barba por fazer e olhar preocupado.

- A numeração nesta rua é desordenada mesmo, respondo. Também não sei, mas se você tiver o nome da pessoa talvez eu conheça. 

Ele pega o celular e me mostra o nome, o endereço e a foto do rapaz. É um jovem, também barbudo, provavelmente estudante e morador de uma república. Dou uma boa olhada na foto mas não reconheço o rapaz. Explico ao motorista que a rua é curta e fica entre a Estrada da Rhodia e a fazenda e que não vai ser difícil encontrar o número. Sugiro que ele procure num beco no final da rua. É bem provável que o número esteja por lá. Já estava colocando o lixo na caçamba quando ele puxa conversa.

- Lugar tranquilo de morar aqui, né, muito bonito também, diz ele. Ruas de terra, muitas árvores e esta calmaria.

- Concordo e digo que é muito bom, ao contrário de São Paulo, de onde deduzi que ele vinha.

- Ah sim, São Paulo é aquela poluição infernal, barulho, carros, uma doideira sem fim, diz ele, alongando a conversa. Mas este lugar lembra muito minha terra natal, o Ceará. Vim para São Paulo para fazer um dinheirinho e assim que puder volto para minha terra, diz.

- Com certeza a qualidade de vida lá é bem melhor que o inferno de São Paulo.

- Não é só isso, é que deixei meus pais lá, sozinhos, eles só têm a mim no mundo. Estou morrendo de saudades deles. Não posso nem falar isso que me dá vontade de chorar. 

E para minha surpresa, ele começa a chorar mesmo. Constrangido, em plena segunda-feira cedo, com um homem desconhecido chorando na minha frente, digo que é uma decisão que somente ele pode tomar. Ainda com lágrimas nos olhos, ele diz que está pensando seriamente em retornar aos seus familiares, mas que antes precisa guardar um dinheiro. Pensei em quantos como ele no passado fizeram este caminho e que jamais conseguiram voltar para seus familiares, ficando a saudade e a dor de uma separação.

Ele agradece pela ajuda, liga o caminhão e vai em direção ao beco onde talvez esteja a pessoa que procura. Coloco o lixo na caçamba, caminho para casa e penso no que será o resto da semana. Bom dia.

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