A chegada do frio resgata detalhes marcantes para quem viveu boa parte da vida na região Sul, alguns pouco conhecidos no restante do País. Desde frutas como o pinhão e a bergamota, até o chimarrão e o velho fogão a lenha. Ingredientes básicos para quem precisava enfrentar uma sensação térmica abaixo de zero diariamente. Mas é por meio do eficiente e indispensável fogão a lenha que todos os ingredientes acima ganham vida.


Não, não é esse fogão de alvenaria que se vê por aqui. É um fogão de ferro, branco, com uma caldeira no lado esquerdo onde ficam litros de água permanentemente quentes, um forninho, uma chapa cobrindo toda sua superfície onde são colocadas panelas e chaleiras, e um buraco onde é embutida uma chaminé que leva a fumaça para fora de casa.

Quem conhece um pouco da região Sul sabe que esse utensílio é básico em todos lares. Além de aquecer a cozinha, é no fogão que se faz café, almoço e jantar. É o ponto central das casas. É ali, na cozinha, ao lado do fogão, que são recebidas as visitas, principalmente nos dias gelados. Sobre a chapa, para não desperdiçar o calor e a lenha, tem sempre pinhão, batata-doce, leite e a chaleira chiando para uso no chimarrão ou chá.

Minha mãe fazia todas comidas sobre esse fogão. O ritual era o seguinte. Meu pai acordava com a geada ainda cobrindo as plantas e ia para a cozinha acender o fogo. A lenha, para não pegar umidade, era guardada em uma caixa atrás ou ao lado do fogão. Quando a cozinha estava aquecida, ele acordava a filharada. Normalmente deixávamos sapatos e meias embaixo do fogão e uma blusa sobre a caixa de lenha para ficarem aquecidos. A essa altura, a mãe já havia preparado nosso café no fogão. A chapa estava coberta com iguarias fortes como polenta com queijo colonial derretido, salame, fortaia (uma omelete típica italiana com queijo colonial e salame), café e chocolate quente. Aquecidos por dentro e por fora, saímos para enfrentar o vento gelado da manhã em direção à escola

Aí então começava o preparo do almoço. As panelas com arroz, feijão, carne, batata e outras delícias cobriam a chapa do fogão. Depois do almoço, a chama diminuía, mas nunca era apagada. As comadres chegavam e a conversa era acompanhada com pipoca, bolos e outras comidas. A noite gelada vinha e a cozinha estava ali, quentinha. A família se reunia em torno do fogão conversando, comendo pinhão assado, ou assistindo um pouco de TV. Os adultos, claro, saboreando um vinho. Nós, crianças, colocávamos bergamotas e laranjas sobre a chapa para tirar um pouco do gelo.

No dia seguinte, o ritual se repetia. E assim ia até o Verão chegar, quando então o fogão era “desligado” no período da tarde. Somente à tarde. Acostumado com o ritmo lento e mais saboroso da comida feita no fogão a lenha, minha mãe usava pouquíssimo a chama a gás. E quando usava, era comum reclamar que a comida havia queimado.

Quando você for para o Sul, repare naquela fumacinha branca que sai da chaminé de uma casa. Ali dentro tem um velho fogão a lenha aquecendo uma família e preparando uma gostosa comida. Coisas do Sul.

1 Comentários

  1. JORGE, gostei...lindo o que você colocou....fogão a linha e outros nesse inverno de B.DE COTEGIPE,,recordar é viver. DO ALTO DO MEU APARTAMENTO aqui em em Erechim...., DOMINGO, CONTEI 6 CASAS LÁ EM BAIXO com chaminés mandano uma fumacinha branca ...legal......AUGURI, continue. Att. Nardelli de ERECHIM.........................

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem