É difícil não escrever sobre dois temas que assombraram brasileiros e o mundo nos últimos dias. Aqui ao lado, em Mariana, tivemos o tsunami de lama que destruiu uma comunidade, matou 11 pessoas, acabou com a vida de um rio e deixou moradores de diversas cidades sem água, gerando consequências ambientais por muitos e muitos anos. O outro caso foi o brutal massacre promovido por um grupo terrorista do Estado Islâmico em Paris, que resultou na morte de 129 pessoas e mais de 350 feridos.

Nas redes sociais, principalmente no Facebook, no último final de semana grupos e indivíduos se esforçaram em menosprezar uma tragédia e enaltecer outra. Também culparam a imprensa de dar mais espaço ao massacre de Paris em detrimento do mar de lama em Mariana. Bobagem.


Estimo que quem pensa assim somente procurou ler jornal ou assistir ao noticiário na TV depois da tragédia de Paris, pois se tivesse se interessado um pouco mais sobre a tragédia de Mariana teria visto e lido que ela foi e continua sendo amplamente divulgada por todos os meios de comunicação. São páginas e páginas de jornal e horas e horas em rádios e TVs. Faltou interesse em saber sobre a maior tragédia ambiental do País.
Os dois casos são de extrema importância. Um delimitado geograficamente e o outro, protagonizado pelo grupo terrorista, alcança abrangência mundial, acirra o medo em todos os países e coloca o mundo em uma pré-guerra, numa visão mais ampla, ou numa guerra já iniciada, em uma visão localizada, contra a Síria. A consequência é o fechamento de fronteiras, o ódio crescente entre raças e credos e a desconfiança mútua entre cidadãos.
E o Brasil não está imune a isso. Em março, o governo brasileiro recebeu relatórios de órgãos de inteligência que detectaram tentativas do grupo terrorista Estado Islâmico de recrutar jovens brasileiros.

Naquela época, dez tinham sido cooptados para serem “lobos solitários”, prontos para serem ativados para atos homicidas em qualquer canto do mundo. As redes sociais são o canal de recrutamento dos terroristas. Um deles, Brain, filho de uma brasileira que mora na Bélgica, virou soldado do EI em 2012.
Em Minas Gerais há que se apurar a responsabilidade da mineradora e dos órgãos municipais, estaduais e federais pelo rompimento da barragem. E estes devem ser punidos pelas vidas perdidas, pelo soterramento na lama do belo distrito de Bento Rodrigues e agora pelos resíduos que descem pela calha do Rio Doce sufocando a fauna e a flora. Não há dinheiro que traga isso de volta.

São duas tragédias que não podemos esquecer: a do ódio e a do descaso.



Crônica publicada no jornal Correio Popular, 19/11/2015

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