"E peço, quando eu morrer/ Não me por em cemitério/ Existe muito mistério/ Prefiro um lugar deserto/ E que o zaino paste perto/ Cuidando dos restos gaudérios"

O verso acima é do poema o Gaudério, do gaúcho João da Cunha Vargas (1900 - 1980), e que pouco foi além do aprendizado das primeiras letras. Morte é um tema difícil, mas é muito bem abordada pelo poeta, que teve uma vida simples nos pampas gaúcho. Ninguém gosta de falar sobre o assunto e aposto que muita gente já bateu três vezes na madeira. Pura bobagem. Ela tem dia e hora certa para chegar. 

Não há fuga. E quanto mais o tempo passa, mais ela vai se acercando. 
Lembrei do poeta gaúcho porque recentemente perdi pessoas muito queridas: o pianista Bebeto, o expert em música Sig, e o jornalista Jarson Frank. Os três foram abatidos por uma doença em comum, o câncer. 

A morte do Frank me tocou pelo fato de não vê-lo há muitos anos. Frank foi editor no meu primeiro emprego como jornalista no jornal O Estado, em Florianópolis. Era um homem culto, viajado e muito me ensinou sobre a profissão. Por várias vezes me programei para visitá-lo em Florianópolis, mas nunca concretizei a viagem. E dai veio meu arrependimento. Quando recebi a notícia da morte, era tarde demais.

O Bebeto conheci quando cheguei em Campinas, lá por 1988, por meio da minha mulher. Os dois eram grandes amigos e o Bebeto com frequência nos visitava ou então íamos em seus belos concertos. Professor, pianista e um verdadeiro gênio, fez história com seu talento e seu piano, e assim será lembrado.

O grande amigo Sig, apelido de Eduardo Simondi, era um profundo conhecedor de música e um exímio professor de matemática, além de um sujeito amigo e fraternal. Sabia de cor letras e melodias. Tinha uma vasta coleção de discos e CDs e era apaixonado por samba e chorinho. Mas, melhor de tudo, era um grande cara. Era comum vê-lo percorrendo as ruas de Barão Geraldo a bordo de sua bicicleta, sempre alegre e disposto. 

Mas a morte veio e levou os três. Não vou entrar em questão filosófica ou religiosa sobre a morte. É melhor tratá-la como o poeta Vargas Cunha trata, com respeito e consideração. É dolorida e também inevitável. 

Então, aproveite seu final de semana e visite aquele amigo ou parente que você não vê há muito tempo. Faça isso. Tire um tempo para uma conversa, um gesto de carinho e amizade. Ele vai se sentir acolhido e você vai se sentir bem. Digo isso porque não fiz a lição de casa com um velho amigo. 

E como diz João da Cunha Vargas em seu poema Último Pedido, cujos versos são melodiosamente cantados pelo também gaúcho Vitor Ramil:


Vou me juntar lá no céu / Onde só Deus bate asa / Não quero dar ‘Oh! de casa’
Que a porta grande se tranque / Que me espere no palanque / Churrasco gordo na brasa

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