O fim de tarde tem algo a mais no ar. Uma confraternização involuntária, uma cumplicidade de termos vencido mais uma etapa de nossas vidas. É quando o sol está encerrando expediente e passa o bastão para a noite, que chega devagar, ainda com sono. É uma troca de turno lenta, marcada por um show de cores no céu, calmaria na natureza e uma mudança nos nossos hábitos. 
É quando o ritmo enlouquecido do dia cede à serenidade da noite. As pessoas se despedem do dia mergulhadas em pensamentos de como foi sua rotina, carregando seus pertences, correndo para pegar o último ônibus para casa. Apesar da pressa e do cansaço os rostos mostram a sensação de mais um dia de dever cumprido.
É quando os amigos saem do escritório para o happy hour no bar da esquina, as amigas param na porta do prédio para contar as últimas novidades, o operário deixa seu cansaço junto com o uniforme na fábrica e para no boteco da esquina para tomar uma pinga com os amigos, o comerciante fecha a loja e suspira por mais um dia vencido, ou vendido, o estudante sai apressado do trabalho e corre para o seu segundo turno na escola, o calor do dia cede lugar ao frescor da noite e o agasalho que estava na mochila sobe para o corpo.
Gosto de ver a coreografia de passos pelas estreitas calçadas. Do mosaico colorido criado pelas sombrinhas e guarda-chuvas. Das pessoas encolhidas em suas roupas pesadas no frio. Dos namorados que se encontram carinhosamente depois de um dia de trabalho e planejam uma noite amorosa. Da garota que começa a marcar seu programa na esquina. 



As lanternas dos carros lentamente traçam um riscado vermelho e branco na noite da cidade. Motoristas encaram o trânsito confuso e lento com paciência, pois sabem que este é o último obstáculo a vencer em um dia que teve muitos. O passageiro que está espremido dentro de um ônibus sabe que logo estará no aconchego da sua família.
Da janela, marido e mulher observam o movimento da rua. A vizinha larga seus afazeres para conversar com a comadre. Em algum lugar, alguém está sentado em frente de casa observando as pessoas passarem enquanto os últimos raios de sol perdem força atrás da montanha. Mas as cores bonitas do pôr do sol no horizonte também trazem melancolia, nostalgia, lembranças de algo ou alguém, de algum tempo que foi engolido pelo tempo.
É o fim de um ciclo. É um dia, que também cansado, se recolhe para renascer. Amanhã cedinho ele vai nos acordar com seus raios de sol entrando pelas frestas da janela do quarto. Será um lindo dia com um belo final de tarde. Basta saber apreciá-lo.


10/06/2015 - 17h36 - Atualizado em 10/10/2015 - 17h37

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