Latidos na madrugada

Os latidos insistentes da Cora, uma vira-lata mamãe de cinco filhotes, me acordaram na madrugada. É difícil ela latir assim, somente quando algo excepcional acontece, ao contrário do Vovô, outro vira-lata que recolhemos da rua, que late até para as moscas.

Levantei, peguei a lanterna, acendi as luzes externas e fui checar o que acontecia. Ladrão sabia que não era, pois, o latido dela seria diferente. Abri a porta da cozinha e a Cora veio correndo.  Me levou até um velho pé de goiaba, com mais de 30 anos, onde olhava para o alto e insistia em latir. Às vezes dava saltos contra o tronco na tentativa de escalar a árvore.

Mirei o facho da lanterna nos galhos imaginando que ali teria um gato, pois na vizinhança são muitos e gostam de ficar andando pelos telhados. Estava difícil de encontrar algo entre as folhas verdes. Fui examinando galho a galho enquanto a Cora insistia nos latidos. Foi então que vi, lá no alto, praticamente na copa da goiabeira, um sujeitinho muito malandro se deliciando com as goiabas e não dando a menor bola para os latidos da cachorra. Com as duas patinhas dianteiras, o gambá segurava a goiaba enquanto metia os dentinhos.  

Noite clara 

Até pensei que fosse um sagui, pois só conseguia ver um focinho e orelhas empinadas, mas logo ele, ou ela, se virou e ficou olhando pra mim, com os olhos brilhando pela luz da lanterna, sem parar de comer a goiaba, sem se importar comigo ou com a Cora.

Achei uma graça. Chamei, minha mulher, Chris, que também tinha acordado com os latidos. Ela veio e o gambá continuou se deliciando com a goiaba. 

Eu e minha mulher ficamos apreciando um pouco o gambá se deliciar com as goiabas. A noite estava linda, céu claro e estrelado, banhado pela lua cheia. Apaguei a lanterna e ficamos contemplando por alguns minutos aquela noite poética. A Cora também sossegou, parou de latir e foi dormir com seus filhotes. Nós, fechamos a porta da cozinha e voltamos para o quarto.

Boa noite.