No começo o impacto foi maior, agora já me acostumei, mas mesmo assim estou enjoado da overdose de comerciais ufanistas na televisão. Todos com a mesma fórmula: cores verde-amarela, multidão de gente correndo pelas ruas com bandeiras gigantescas, alegres, sorridentes, cantando olas ao Brasil. Sem dúvida, são comerciais bonitos, primorosos na qualidade da imagem e som. Mas cansei de ver idoso caracterizado como favelado, rosto sofrido, cabelo desgrenhado, com a camisa da Seleção e a Bandeira do Brasil na mão, dando seu sorriso 1001 para mim, em câmera lenta. Aliás, é um abuso de imagens em câmera lenta enaltecendo sorrisos de um povo feliz. 

E os comerciais com as rodinhas de samba num bar de esquina, cerveja na mesa e mulatas e loiras gostosas sambando sem parar? Um Brasil alegre demais, muito melhor do que qualquer país do primeiro mundo. Não é por nada não, mas pesquisa divulgada esta semana pelo Instituto Gallup World Poll mostra que o brasileiro continua a ser o povo com mais confiança no futuro. Com nota 8,8, numa escala de 0 a 10, o Brasil lidera o ranking mundial pelo oitavo ano consecutivo. Uma bela munição para publicitários mostrarem que nosso País é uma maravilha, somos alegres, coloridos, sorridentes e sempre dispostos a dançar na rua, na favela, no bar. 


Mas o que mais me indigna são aqueles belos comerciais patrocinados por bancos, exploradores contumazes dos nossos pobres recursos financeiros, usando sempre imagens em câmera lenta para realçar o sorriso de uma criança, da mãe, do trabalhador pendurado num prédio, do motorista de ônibus. Você até acha bonito, só que é o mesmo banco que está cobrando uma taxa absurda e um juro altíssimo na sua conta. E os comerciais das estatais, como da Petrobras, com aquele monte de trabalhadores alegres e felizes trabalhando em plataformas em alto-mar. Ah, quanta felicidade.


As propagandas de automóveis logicamente não ficaram de fora. É só alegria, festa, uma mocidade descompromissada com a vida, curtindo estradas, trilhas nas matas, nas praias, ou enfiando um monte de gente nos carros para mostrar que eles são os melhores do mundo. Pena que os preços nunca caem, só sobem. E dá-lhe alegria. 


E aquele povo no interior do nada, vivendo de farinha, mas que está contente, feliz com a Copa do Mundo no seu país, apesar de não ter luz elétrica e nem água encanada. Esqueceram de colocar na roda festiva a classe AA do País. Pensando bem, não seria legal mostrar eles em seus vastos apartamentos e casas tomando champanhe e assistindo aos jogos em TVs ultrahiperfull HD do tamanho de uma parede, e sendo servidos por mordomos. Não, isso não seria legal, não tem gente desdentada e eles também não saem correndo pelas ruas carregando bandeiras. 


De mau gosto são os comerciais de um fabricante de cerveja que satiriza visitantes italianos e ingleses. O mau gosto se agrava com os hermanos argentinos, que, no comercial, são colocados em um navio, lançados ao mar, e, na cena seguinte, um míssil é lançado do litoral em direção à embarcação. 


Pior ainda é aquela maca cor de laranja usada pela Fifa para remover jogadores abatidos em campo. Parece um daqueles caixões usados para carregar mortos no rabecão. Pintaram de laranja para não ficar tão macabro. Dizem que é o padrão Fifa. E dá-lhe Brasil.

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